tudo aquilo que me dás, todos os não que me ofereces, os pequenos-almoços à pressa, os almoços feitos por nós, os jantares com o sumo que tanto gostamos, o ouvido que quase perdeste, as atitudes que tens que eu critico, esse cabelo com o ninho atrás todas as manhãs, essa franja dividida por um remoinho que te caracteriza desde que te vi nascer, essas unhas que de tanto falo (...) tudo forma uma linha de catorze anos que a pouco e pouco cresce mais um ano, mais um dia, mais um segundo. num dia com vinte e quatro horas posso gozar contigo durante vinte e três delas e durante a outra não estar ao pé de ti, mas se não fosses assim não teria a quem roubar beijos ou dar à força. sabes que cada beijo, cada abraço, cada segundo em que te faço cócegas, em cada dia que não te vejo - todos esses momentos constroem uma muralha enorme que me defende todos os dias. podes não ouvir o mesmo que eu, podes não gostar da mesma camisola que eu e dizer 'ó mana, que horror' numa loja, podes gostar de alesana (ou coisa parecida) e eu gostar de sigur rós (que para ti são músicas para dormir), mas o nosso sangue é o mesmo, a nossa primeira cama foi a mesma, dei-te tantos beijos em pequenina, brinquei tantas vezes contigo e de dia para dia vejo-te crescer e passar exactamente pelo que eu passei e vejo-me em ti apesar de com gostos tão diferentes. todas as fases que te transformaram numa mulher, em vez de gozar, como tu fizeste, ri-me e senti-me orgulhosa (o que sempre te irritou), por me ver em ti, porque é contigo que partilho mais essas coisas, é contigo que janto com a televisão aos berros, é ao pé de ti que sou capaz de fazer coisas nojentas, é a ti que te roubo metade de um crepe ou um bocadinho de sumo e aí a tua personalidade ataca e és capaz de fazer aquele som que tanto repito 'tse, ah' e que mais ninguém faz tão bem como tu. cada estalo, cada pontapé, cada palavrão que te disse fez parte. e desde o dia dois de agosto de 1994 que cresces, que te desenvolves, que largas as barbies e te agarras ao computador, que deixas as papas e te babas com crepes, que deixas a zippy e vais comigo às outras, e passados uns anos deixei de te chamar bebé e passaste a ana joão.
quando for embora vou eu, e vai o teu coração comigo, o teu coração rockeiro, traquina, irrequieto, endiabrado, alegre e familiar.
amo-te