cada osso que te dou é para te irritar, tu sabes, gosto de o fazer. e esse sorriso parvo? é a minha perdição. sorriso p-a-r-v-o inês. sabes que te amo muito, que és muito para mim e que ao longo do tempo foste conquistando parte dos meus dias. aqueces os meus leucócitos, aturas a minha paixão pelo Nandinho e dás voltas aos meus limites. obrigado minha suína, por me fazeres levantar da cama bem cedo para ter mais um dia ao teu lado. no início sabemos que tudo aconteceu muito rápido, que invadiste e criaste um espaço só teu dentro de mim. de um momento para o outro estávamos nitidamente felizes a comer os nossos folhados mistos, tu a gozar com as minhas saídas loiras e eu a ouvir-te falar do teu cartão de crédito com o sorriso parvo nos lábios. amo-te, 'porque todos os dias de manhã antes de iniciar mais um caminho, é em pessoas como tu que penso e é por vocês que me levanto, que vou dar mais alguns passos naquilo a que chamam vida, que para mim não passa de um castelo que se vai construindo pouco a pouco. uma amizade, uma palavra, um sorriso, um desabafo: todas essas acções servem para acrescentar mais um bocadinho àquilo que construímos todos os dias. sem pessoas como tu a minha maneira de agir, de ser e de ver as coisas não seria a mesma.' mesmo que não gostes das mesmas músicas que eu, que não gostes de jantares à luz das velas, são esses pequenos pontos que fazem de ti o que és para mim.
amo-te inêjamaral

desentendimentos

Não ousem duvidar de que os sinto ou como os quero sentir. Vocês, pensamentos, impedem-me de consentir. Nos momentos em que a vossa tarefa seria recordar-me valores sábios, agradáveis e apetecíveis de experienciar novamente, relatam-me histórias do dia que passou, do mês ou do ano que passou… Depois disso vêm as dúvidas, pois está claro. Aparecem as perguntas sem resposta, os dedos apontados a mim própria e a eles. Roubam-me o sorriso e oferecem-me chuva que possa ser derramada nas maiores claves onde escrevo. Não façam isso, não tentem oscilar entre um sim ou um não. Deixem-me a mim escolher, com tempo, com a pouca mas boa maturidade que tenho. Fujam, não vos quero perto de mim, nem sequer ver-vos.

três minutos e cinquenta segundos

é como se me envolvessem em cordas feitas de pesadelos, como se o preto inundasse uma chama que se afirma pela cor que anteriormente tinha. agora, que me apercebo do grito de que o meu corpo precisa, digo a palavra que me põe inteiramente bem. esperneei-me toda, dos pés à cabeça, até as forças me faltarem e já só conseguir mexer, ainda que lentamente, a boca. depois de uma luta entre palavras, entre sensações, a minha boca exigia o fechar de frases que eu própria deixei incompletas, frases essas que sepultaram sentimentos que sempre quis ter para sempre. agora, cada vez que o vejo, sinto-o. sempre que posso mostro-o a alguém: finjo a vontade de mostrar e gozo a sensação de o ver – diversão irracional. quero ir além do além e chegar onde o meu eu pede, onde o meu deseja.

chama

deixa-me correr, deixa-me trincar e ouvir o som da maçã enquanto a trinco com uma força e com um desejo de lebre, deixa-me arrancar o som que uma margarida tem dentro de si. quero poder agarrar esses pormenores e fazer uma viagem de um segundo até ao mundo da tal maçã. como dizem «a liberdade conquista-se» - eu sinto-lhe o cheiro e cheiro-lhe o sabor cada vez mais perto! agora deixem-me, larguem as asas que tenho no cérebro que vão levar-me até onde eu quiser, onde eu e eu quisermos. vamos? prometo que sabe bem sentir o rio debaixo dos nossos pés e cheirar uma simples erva daninha que nos perfura o dedo e deixa a marca e o êxtase durante minutos. é isso que quero sentir, o que a natureza provoca, o que ela, só por pensar, me traz.

alegria irónica

Imagina uma frase meiga. Esta, bem longa, termina com um ponto final bem bêbedo. Está completamente fora de si, completamente embriagado e mergulhado somente nas coisas agressivas e brutais. Tudo isso o levou a mostrar-se, finalmente. A sua presença estava dentro de mim há já bastante tempo, mas nunca quis acreditar que conseguia fazê-lo. Agora que disse, que fiz, sinto-me bem, mais corajosa e cheia de razões para assim ter agido. Não perguntes, não tentes sequer perguntar o porquê disto - sabes melhor do que ninguém que mereces. Neste momento ganhaste um espaço gelado e cheio de más energias, recheado de gorduras e de dias chuvosos. Obrigas-me a manter-me calada e a ter a posição mais difícil e firme no final. Desculpa, mas eu tive de o dizer. Prometo que te magoaria mais se guardasse tudo para mim. Continuo a esconder a pior parte, mas verbalizei-te em todos os géneros, feitios e formas, de maneira a perceberes que não vales mais que isto.

escrever (?)

Tento sempre escrever com a maior clareza que conseguir conquistar. A cada palavra que percorro lhe sinto o sabor, cada uma significa um e um só travessão. Um ponto final é um suspiro e uma vírgula é a voz do silêncio que inunda a palavra que a antecede. A voz dos meus textos reflectem-me a mim, só a mim. Há dias em que o que canto está nos tons superiores e outros em que tudo está enrouquecido dentro de mim, em que nem o que quero dizer consegue escapar ao monstro que é o ponto de exclamação – esse? significa uma mistura de euforia com medo umas vezes, e algumas luzes psicadélicas e infernais noutras. Sei que os meus textos, por vezes, são longos e demorados, mas não quero, cada vez que reflicto acerca de alguma coisa, deixar uma ponta solta ou uma página em branco. Todas as páginas são para serem preenchidas, escritas com carvão, recheadas de sonhos, calor e emoções e embrulhadas pelas mãos mais dóceis que conheço.

Meme

Ora bem minha Mafalda, nunca respondo a desafios, mas este vou aceitar. Tenho então de dizer as 3 frases que acho serem mentira acerca da Mafalda e depois escrever as minhas 9 (6 verdades e 3 mentiras):

Começo então por dizer as três fases que acho serem mentira acerca de ti:
- Falo tão bem Francês quanto Português.
- Faço colecção de etiquetas de marca e laços-estrela.
- Muitos dos meus fins de semana são passados no campo, embora eu deteste.

Passo então agora a dizer as minhas nove frases:
- Um dos meus objectivos é voltar a viver no Porto.
- Naturalmente, sou morena.
- Há quase quatro meses que não como carne.
- Já fui a Espanha, Áustria, Inglaterra, França, Itália e Noruega.
- Sofro de aracnofobia.
- Sou muito insensível.
- Gosto de bacalhau com massa.
- Sou eu que corto o meu cabelo, algumas vezes.
- Gosto de fígado.

Não vou desafiar ninguém, quem quiser, tente adivinhar (:

contraste

É o explodir de contrastes. De repente vi-me sorrir como se tudo o que com que sempre sonhei estivesse a dois dedos de mim, como se tudo tivesse sido transformado em rosas de uma cor indefinida, como se tudo estivesse parado para me ouvir, para me ver assim. Agradeço a essas não pessoas, a esses que tanto me dão. Na verdade, eu dou-me a mim, entrego-me àquilo que de melhor tenho – a minha própria consciência. Percebo que tenho de ser eu a conquistar todas as capitais de sonhos, todos os sorrisos tremidos que conseguir dar. Se eu os conseguir acolher dentro mim, todos os vão sentir, cada um vai tocar de uma forma sensivelmente diferente, todos vão viver cada segundo de cada gargalhada. Vejo-te no meu interior e, com esta atitude, consigo perceber lucidamente o que dantes não estava ao meu alcance, a que, anteriormente, não conseguia chegar. Agora tenho nos pés os melhores guias e só a eles posso pertencer.
Como posso eu falar sobre isto com alguém se nem eu própria me percebo? Ninguém pode perceber o que sinto se nem eu sei explicar. É estar a olhar para a frente, ver aquele roxo que me obriga a pensar no futuro. Odeio pensar no futuro mas pensei por breves segundos, e aterrorizei-me do que há para fazer, do que não vou poder saborear! Queria voltar a ser criança, onde em nada disto pensava, onde simplesmente me limitava a olhar. Aqueles que nos olham na rua, que nos admiram com o prazer nojento estampado na cara, porque nos admiram assim? Limitam-se a trabalhar onde podem, nas obras, não pensam. Reduzem-se a sentir o prazer que lhes dá olharem para uma rapariga. Eu não quero pensar no futuro. Se penso nisso o que me apetece fazer é ir embora de vez, largar tudo, largar os que amo, e ir até onde puder sem ter para onde ir. Sinto-me estranha, como se o eu estivesse numa viagem eterna, interminável. Não o encontro agora, se calhar fui mesmo eu que fugi, cansei a palavra esperar. Odeio rotinas, odeio linhas traçadas e caminhos decididos. Queria sair disto, poder sentir a liberdade no rosto e não ter de esperar por ninguém nem estar à espera de nada. Mal possa vou estar a fazê-lo - prometi a mim mesma, para poder sustentar. Se demorar, não sei se fico (...)

sem interrupções

Sentes-me ao teu lado? Sentes o meu cheiro, o meu toque e a força que faço para te poder olhar fixamente, sem interrupções? Eu sei, todos os dias o faço, todos os dias te observo como pela primeira vez e revejo um conjunto de existências a lutarem entre si. Dentro de ti vejo uma nébula escura, assustada. Tenho receio de te perfurar ainda mais, de poder encontrar algo em que penso tantas vezes, não quero fazer de ti alguém que finjo nunca ter conhecido. Tenho medo que nunca tentes, que fiques mal pelo que escrevo, mas tudo o que digo sei que encaixa em cada pensamento que lês. Quero-te para sempre, ao meu lado. Não duvides que morreria por ti, que atravessaria estradas de medo, fobias ou terrores. Fazia-o para te provar que sou capaz, que não sou o sonho desfalecido, a cor neutra ou a chaga que odeias. Agarra-te a mim, eu levo-te numa corrida, numa corrida que vai deixar sinais de terror dentro de ti.

botão

Tento sempre dar tudo de mim e deixar o máximo do que tenho em tudo o que faço. Se puder pintar azul sobre amarelo, pinto, porque o que interessa é deixarmos a nossa marca, deixarmos aos outros a ideia de que ninguém pode atingir o que desenhamos. Nada é inteiramente nosso, mas tudo pode ser marcado por nós. E o ser humano tem essa capacidade - a de criar, de inovar dentro de si mesmo, de poder formar novas leis para os seus botões, esses que mandam só em si, esses que são livres de todas as perspectivas reais e irreais. Todos temos dentro de nós um espaço para poder fazer suposições do certo ou errado, todos temos a possibilidade de arcar novos caminhos, novas realidades. Eu sonho com isso todos os dias, durante todos os momentos em que mergulho dentro dos meus braços indolentes, dentro do som que me inala, dentro desse mim. Tudo o que classifico como sendo insensível se transforma num conjugado de rugas e de cores transparentes que, sem me conhecerem, conseguem alcançar o máximo do meu eu.
Começaste por subir um degrau de cada vez. Cada um tinha o seu valor, cada um transparecia uma cor combinada com o seu significado. Cada passo que deste passou-me, a mim, uma vontade enorme de me juntar a ti, de percorrer essa linha que te levava até ao outro lado. Senti-te no topo, a reparar em cada pormenor de uma simples folha, a olhar para a brisa de vento que te pousava o cabelo no sítio errado e a ver tudo o que tinhas de caminhar para chegar abaixo de novo. Reparaste no tom azul que se sobrepunha a ti mesmo, no verde em que te sentavas e no algodão doce que te tapava. Foi aí que te convenceste de que bastava encarar o sorriso como a melhor coisa que podias fixar na tua face, de que tudo o que tinhas de fazer era esquecer as dúvidas e concentrares-te apenas na rampa que tinhas diante de ti. Então, sorriste e escorregaste até conseguires mergulhar num mar de recordações que fizeram surgir, dentro de ti, uma explosão de gargalhadas. Soube bem ver-te assim, soube bem ver-te soltar essa lágrima, símbolo de uma decepção feliz. Quero-te assim, para sempre e para mim.
Há palavras que nos invadem e encaminham para dentro de nós uma espécie de desejo de fuga, mas há também as que duram anos a evaporar, que às vezes nem fogem, e que formam um ninho de dentro de nós, porque com elas sentimos que aprendemos muito, é muitas vezes nelas que nos apoiamos para não escorregarmos, ou até mesmo cairmos. São palavras que servem como molde para a criação de um quadro que envolve todas as emoções existentes num passo dado. Essas, são símbolo do pensamento dos outros, símbolo de algo que apenas recebo porque pensaram que merecia que as entregassem. É com as palavras, com as respostas que me dão a cada texto que escrevo, que aprendo e ganho coragem. E leio-as muitas vezes, principalmente, nos textos que falo sobre um pedido de ajuda a alguém que maior parte das vezes não conheço, mas que me conhece a mim através do que digo. Isto tudo porque às vezes um sorriso não chega, porque dentro de nós tudo está inundado de mágoa e ele não pode ter força para lhe vencer a ela. Afinal, tudo se resume à força de vontade, e essa, muitas vezes, ganha-se com as palavras dos outros.
Obrigado.

Desafogo

Sei que a vida é para ser sentida lentamente, sem provocar no tempo um medo de nós que o faça fugir, sem pressa de educar a independência dentro e fora de nós. Mas há linhas que eu gostava tanto, mas tanto de inundar com rapidez, de preencher sem ter de confiar. Há coisas, dentro de mim, que preciso de reformar, que sei que não estão no instante necessário para poder caminhar até atravessar para outra margem, mas sei que não sou dependente de tudo, de mim. Sei que, por momentos, voltava atrás mil vezes, corrigia mil passos e ontem podia ter tido um dia melhor, um dia menos chuvoso, com a visão de menos mil rostos amargos. Há dias em que só nos devem dar a arma quando ela está carregada, se não agimos mal só por acharmos que nada nos vai trazer problemas, que nada vai trazer um prejuízo ao nosso dia a dia. e de que serve isso? De punições, às vezes exageradas, mas que temos de sofrer, independentemente da nossa opinião. Queria voltar atrás para corrigir o que fiz, não por mim, pelos outros. A vontade que tenho de mudar alguma coisa tenho de a guardar para mim, porque só eu e os meus a conseguimos entender.

Desprezível

Caminhei, como se de um dia ordinário se tratasse, como se fosse mais um insignificante para acumular ao livro que tanto saboreio. Tive vontade de o seguir, uma vontade insaciável que me comia cada fugida, que me subornava com doces cantigas. Então, sem conseguir resistir, fui atrás do rasto luzente que deixava para trás, dos sonhos que largava a cada passo que dava. Estive sempre a seu lado sem o deixar aperceber-se disso, com a ideia de o ajudar a recompor o rosto morno que carregava e o corpo seco que se molhava a cada gota penetrante de chuva. Tudo lhe era invisível e só uma coisa via à frente - os pés. Não olhou para cima durante toda a viagem. Achei estranho, no início, a forma como de repente parou, como se um abismo o tivesse confrontado. Reparei nos números que trazia na cabeça, na palavra que levava atada ao coração e na data marcada na anca. Tinha os olhos inundados de medo e raiva. Retomou a sua direcção e eu a minha sincera perseguição. Passámos por um caminho de terra, com bichos de que a mesma se alimentava e, posteriormente, atravessámos uma ponte que me foi familiar – era semelhante àquele sinal de trânsito, na curva apertada da minha cidade. Sem querer ser egoísta e concentrando-me no que queria fazer, continuei essa leve e densa caminhada. O meu corpo cansou-se, os meus lábios secaram e a minha alma arrefeceu - quando dei por mim, estava parada a ver o mundo rodar a minha volta, a desaproveitar a oportunidade de um desafio, a oportunidade que ele teve. Estava a deitar num chão definitivo tudo aquilo que queria. Pus um ponto final em tudo, em mim, em nós.


[o meu amanhã (4) vai ser medonho]

centésima repetição

Querer uma coisa e não lhe conseguir tocar e ter tudo aquilo que ela obriga trás a sensação de inutilidade. Irrita-me o facto de o desejar tanto e nunca o conseguir atingir. Queria um dia poder chegar ao modo de ter tudo o que posso nas mãos, na pele, no grito que dói e que corrói a camuflagem. Gostava de, por momentos, pôr o esforço de lado e conseguir manter-me de pé e aguda sem ele. Quero-te a ti, quero poder voltar ao tempo das anotações, em que tu e eu éramos uma só, em que me podia abraçar a ti, apesar de não existires, em que os outros mentiam e só tu, quando eu me via, me dizias a verdade. Quero poder sentir-me limpa novamente, quero poder passar um dia sem me arrepender de ter o acto de levantar a mão direita e de me poder sentir orgulhosa de mim mesma, só peço uma semana. Foi a mais dolorosa, em que, teoricamente, os que são melhores que tu, os que mentem, me pediram para parar, mas foi a que me trouxe bem-estar, prazer e comodidade. Pela centésima vez – quero repetir-te e sentir-te dentro de mim, a comer-me cada desejo da que odiamos e a quem desejamos morte. Percebi hoje que preciso outra vez de ti.