Numa rua onde param o branco e o azul, à minha janela vejo um excessivo vermelho. Vejo-o nos lábios, nos anúncios, nas paredes e até mesmo, ali no fundo, naqueles sapatos. Consigo caracterizar cada tom desta cor. É garrida, forte, dolorosa ao toque e suave ao olhar. Não peço, juro que não peço mais nada senão poder tocar-lhe, sentir a sua dor, a sua chama, a sua robustez. É engraçada a forma como passa do rosado para o vermelhão - são as emoções, essas que trabalham dia e noite para se fazerem notar. Uma vez, uma disse-me ser a rainha de todas as outras. Julguei estar mentindo, até ao momento em que a senti dentro de mim, estava vermelha; cantava tão alto que acordou, dentro do castelo das sensações, o azul, o amarelo, o laranja, todos os tons fáceis de ouvir. Cada um de nós tenta agarrar a sensibilidade que mais lhe apetece, e apesar dessa rua ser branca e azul, eu pintei-a de vermelho. Quando chover, abraçar-me-ei aos meus olhos e pintarei de novo.
Nunca as tinha sentido voar na minha barriga, essas que têm brilho nas asas, rosas na boca e sonhos nas patas. Para elas não existe céu, não há um limite e, por agora, as suas asas batem incondicionalmente. Se um dia cessarem, juro correr até ao fim do mundo para recuperar e ressuscitar a sua pura beleza, o seu sorriso colorido e irei mergulhar de novo nesta casa que as pedras do rio construíram e onde a energia, a saudade e a consciente inconsciência duram. Agora, espalho a minha confiança sobre as folhas que nunca deitadas irão ficar, que corrompem todas as leis da natureza e se erguem por si mesmas até um labirinto ser formado dentro de mim. Esta borboleta não é rigorosa, é livre, louca e irracional, porque é disso que ele se trata.
«As chamas trinco, no gelo ardido, são formas muitas de te amar.»