minha criança

Um tapete colorido, invadido por traços de emoções que se resumem à inconsciência tocada de duas crianças. Emerge uma cor de cada vez, sem serem criados padrões ou caminhos. Um beijo e um abraço chegam, uma história encantada ou uma simples música de embalar. A sensação toma um atalho acolhedor e um ingénuo arco-íris origina milhares de sorrisos simples mas sentidos. Os sons resumem-se a palavras geradas por emoções vivas, inicialmente retraídas, que lhes tomam conta do corpo e do coração e que transformam toda a seriedade exigida pelo mundo em doces lágrimas bêbedas de alegria. É bom poder sentir essa “felicidade inconsciente”, uma felicidade espontânea e incondicional, que aparece quando menos esperamos e nos tornam pessoas mais preenchidas.

ponto de luz

Quando ao mundo nada sobra, quando apenas a remanescente força do cansaço conquista o meu corpo, existe um ponto de luz que germina, cresce e se senta dentro de mim. A alma aquece e o coração ganha uma enorme vontade de correr até às areias de África. Quando vejo essas imagens embaladas numa música tão suave e delicada, os meus braços ganham cor, os olhos fecham-se, os ombros correm de um lado para o outro e os pés divulgam-se como estando imóveis. É uma viagem que me conduz até a um balão onde os olhos brilham de esperança e os passos são mais abundantes, onde o sorriso é escasso e a concentração foge por entre os dedos. A claridade constante faz-me perceber que estou fora de mim, dentro de um raio resplandecente e carregado de confiança.
expectativas desmoronadas e dilaceradas por olhos que não chegaram a abrir, corações que se fecharam a si mesmos, que negaram todas as palavras do Mundo, por acharem que só e para sempre pertenciam a um e a uma. mostrando que vão aguentar, que conseguem chegar ao fundo do túnel, caem. as forças são mortas pelo sentimento peculiar que acarreta um conjunto de acções manifestadas inconscientemente. todos os sons provenientes dessa sensação de mau-estar, de fraqueza e choro se multiplicam até chegarem ao seu próprio auge e serem obrigadas a mostrar-se ao mundo, a abrir a porta escura que as escondia, a derreter qualquer chão que as apoiasse e, finalmente, a aprenderem a aceitar dois lados. o coração é obrigado a criar prateleiras dentro de si, a construir compartimentos bem delimitados, obrigação essa que esmaga sentimentos e queima recordações.
Problemas de consciência, palavras que ficaram por dizer, por escrever, e pensamentos que ficaram presos às pedras por onde passei. Não me atormenta o que poderá vir, mas sim o que está agora, o movimento que faço com o nariz cada vez que penso e repenso. Se o som aumentar e diminuir aleatoriamente, tudo vai caber dentro das pequenas caixas que acompanham a bagagem que levo a meu lado. O sol desce, volta a subir, e o número dez soma-se a mais uns tantos. A única rede que aguenta o meu peso passa a ter doze espaços entre cada outro espaço, e o ponto de interrogação chega, chocado e perplexo com o que o seis lhe disse. Após um longo período de dúvida, o som é fechado e tudo aquilo que tinha dentro de mim, os sonhos, os pensamentos, o peso e a saúde, tudo desaparece e se transforma num simples ecrã exposto na montra de uma loja antiga, numa esquina das ruas de uma cidade esquinada. Apontarei o dedo ao ponto preto no espaço branco.
Pés que se tocaram, que rasgaram pedaços de sentimentos já destinados, escritos por um e por outro. Mãos que gritaram e sugaram tudo o que a liberdade dá e mais um pouco, cabeças que puxaram vagabundos das ruas de Lisboa e que desgarraram momentos às paredes. O que o tal senhor faz, o que o mundo nos leva a fazer, traz sujidade e nojo aos que olham e regalam de olhos fechados. Em vez de fugir, os sonhos permanecem para poder tirar maior partido do que têm dentro da aura de cada um. Enfrentam-no de armas em alta e caras estremecidas pelos sons que corrompem todos os bichos esfomeados. Palavras como extravagância ou requinte chegam agora queimadas através dos sorrisos oferecidos pelas estrelas que os viram, pelas nuvens que ficaram negras de enjoo. Ela agora usa o grizo como arma, e consegue sair com a vitória infiltrada no peito. Neste episódio não ouve música, o silêncio morou nestas palavras e mergulhou nos espaços que entre elas nasceram.