Áspero

tu não consegues controlar aquilo em que pensas, não é assim tão clara a imagem do momento em que cedeste os teus sentimentos. olhas para o que queres e consegues não atingir o suficiente, o que te faz conseguir parar. os teus lábios tremem, as tuas mãos gelam e o olhar derrete-se. ficas insegura e encontras-te a ti própria quando olhas para o melhor, quando bebes o chão onde caminhas, onde passas e deixas um rasto vermelhão que assina o profundo inatingível. não é o que esperavas ou o que querias esperar, é apenas mais um suspiro que se transformou, mais uma vez, em tons aflitivos, em sons graves e em imagens escuras. e quando o mar colide com o teu coração, quando as esquinas viram curvas, quando o que sentes se sente bem, o barco que sempre navegou em ondas melancólicas agora passa a balançar-se sobre uma cópia de algo que amas. pega-lhe ao colo, põe as palavras na ponta dos lábios retraídos dos outros que se caracterizam por serem vivos. agora só tens o que lhe tiraste num balde de tinta e não podes voltar atrás, não podes fazer com que nada mude. e sabes que é difícil pintar-te mas o quarto do teu jardim está trancado com palavras que só a pele que sua todas as manhãs consegue transformar num arco-íris a preto e branco, algo que ninguém vê, ninguém atinge. será tua a culpa? pergunta, apenas.

Sem comentários:

Enviar um comentário