Perfil


Já se ouve ao fundo do corredor a balada que traz ao colo o brilho daqueles olhos resplandecentes. Dando um passo conseguimos descobrir sentimentos encarnados, um arrepio no sorriso, o sapato parece que se desaperta e acorda aquela música que tão quentes palavras dita.
Aqui ao lado já se ouve o piano - aquele piano. Enquanto canta, conta histórias. Até esta hora a melancolia era capaz de sugar todas as cores que o observavam, mas chegou agora a altura de abrir as cortinas e gritar ao mundo aquilo que tão feito de vermelho se guardava. Não vale a pena guardar-se dúvidas, de nada vale cantar uma música sem a ouvir ao fundo. Eu ouço-a e tenho-a cantado todos os dias, apenas com um retoque naquele acorde que me faz prometer tanto a todos os pés que me seguram. São muitos.

Não me interessa o chão, o céu, o tempo ou a forma como me enxergam, tenho-te a ti. É como aquelas fitas de seda que se deixam voar por aí até encontrarem um ponto que lhes faz bem, que as agarra e amacia como nunca pensaram ser possível. A sensação é-lhes impossível de descrever, é uma coisa estranha que dá comichões às borboletas que se acham rainhas desse pedaço vermelho que carregamos ao peito. Venha aquela comichão, venha a chuva ou a saudade que mata, o tamanho cura tudo e o tempo encolhe, e tu? És gigante.