Vemos olhos serem pisados como uvas, vemos luas sem um sorriso espelhado e mares guiados por confissões. Definimos um protótipo daquilo que nunca completaremos e do conjunto de momentos que aperfeiçoam o último ser que poderíamos encarnar. Passados uns pequenos e suaves segundos vemos os nossos dedos a indicarem e a nossa falsidade a sair para fora, a expressar-se como se expõe naquela ou naquele. Por momentos senti-me agarrada a um pesadelo que num só dia se tornou realidade três vezes. Mordi tornozelos e deixei a minha pele sonhar comigo. Transformei pedaços de pão em água e pastilhas elásticas em adúlteras colunas de som. Deixei escorrer vida que fugiu através da porta que deixo aberta todas as manhãs, a porta que tem proibido a entrada a qualquer pessoa que não eu. Uma das sete chaves está escondida nas mais profundas costas do pescador que tanto nada, nas escamas do peixe que procura e por de baixo das teclas do piano que assobia. O som do melro que canta dentro de toda esta fantasia deixa mil e uma melodias que cantam o mesmo refrão, refrão esse que deixa transparecer sentimentos fundidos, escapadelas repentinas e sonhos pervertidos. Se me deixares eu peço desculpa, mundo.
[dentro de tanta coisa é roubado tempo para isto, que tanto bem me faz.]

4 comentários:

  1. Além de fazer bem a ti, faz crescer e sonhar quem lê o que fazes. Só boas razões para continuares a libertar-te de todo o que aí falas andando sempre à volta, uma coisa que tanto gosto. :D
    ("Uma das sete chaves está escondida nas mais profundas costas do pescador que tanto nada, nas escamas do peixe que procura e por de baixo das teclas do piano que assobia." - cheira-me a influências do Velho e o Mar ;D)

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  2. Bem me parecia. Fez-me mesmo lembrar o livro. :P
    Devias ter escrito o livro a par com o Hemingway *

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  3. Tenho andado um pouco desactualizada dos blogs, mas ha ver se passo mais aqui. que vale sempre a pena. mais um brilhante, que me deixa de 'queixo caido', maria. beijinho.

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  4. «(...) refrão esse que deixa transparecer sentimentos fundidos, escapadelas repentinas e sonhos pervertidos».E que os melros continuem a cantar.

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