Proveito

Com cada erro que escrevo, com cada queda que dou, com cada caminho em que me engano, formo um conjunto de linhas que guardo nas primeiras páginas, como uma defesa. São os dias mais difíceis, que nos tocam mais, são nesses onde nos concentramos mais sem lhes conseguirmos dar um não seguro. Deixam feridas disformes, marcas de dor encoberta que só com tempo e cérebro se curam, só com a força do dia anterior se ultrapassam. Um dia bom traz-nos a alegria do seu título, o sorriso ao deitar ou uma gargalhada legalizada. Um dia mau não passa a ser pior por não brilhar tanto – só tenho de o transformar em força e coragem, só tiro apontamentos da lágrima que me limpou o rosto para na vez seguinte já saber como me deixar pura e igualmente limpa. Chorar faz bem, como o outro dizia, mas é melhor guardar as lágrimas que só nos trazem ainda mais melancolia, que chamam representações de que temos medo, vozes que nos azedam ou sons inquietos. É disso que mais gosto – da dor que senti e da coragem que não tive para não escorregar nas rasteiras que os dias nos dão – porque é isso que me ensina a caminhar e a saber ouvir a verdade de um pranto.

5 comentários:

  1. Vou levar este texto à letra. Tens razão em tudo o que escreveste, é um dos textos que me diz mais neste momento.
    beijinho :)

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  2. Como paro de ser assim para comigo?
    Já não tenho forças para ultrapassar isto. Se as tenho, não as vejo. Não sei o que fazer. :(
    Não sei como parar de ser assim.
    Devo ser assim, porque deve ser a única coisa a que sou bom. Ou então não.

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  3. Admiro tanto estes teus textos. Força, pura força da vida. *

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  4. Adorei o Texto, mais um (:
    Faz pensar e lutar.
    Os teus textos ganham vida miuda

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