.

Senti-me acordada, com dúvidas da veracidade do concretizar daquilo que ansiava. Tornou-se sufocante poder pensar nos tais coloridos e na curva apertada que quero sempre. Tudo aquilo que queria, aquela chegada ao meu mundo, essa ânsia dissipou-se no momento em que abri finalmente os olhos, com um esforço merecedor. Cheirei o conjunto de padrões e de tons que me deixa sempre cativa a esse tacto, já alcançado nessa altura.
Quando mais espero, maior é a vontade de chegar e, em consequência disso, aperto ao peito o que guardo de cada livro para poder sempre ter em conta o tempo e o momento.
Parei, olhei e reflecti.

menina

fico feliz por ti, criança.
de uma forma pouco conhecida e tua alcançaste o inalcançável. subiste à montanha mais alta, deste o salto mais corajoso e concretizaste o sonho que querias - ser maior mas ter menos responsabilidades.
faz-te bem agires e odiares-te assim, porque nem sempre o que odiamos nos faz mal! a ti, catraia, fez-te renascer e crescer até chegares àquilo que és. oferece-te uma liberdade grande, mas medida.

ó tu, criança, parabéns!

Natal

A época natalícia é uma das que gosto mais. Aquece-nos sem percebermos como - o quentinho da lareira da avó, a saída de casa que me acorda tanto.
Fizemos a troca de prendas na quinta à tarde e, para mim, o mais importante não foram os presentes, não foi a lata de soja, não foi a Pandora nem a bolsinha, foi o momento. Foi o facto de ter criado mais um momento no meu coração, no qual guardo os sorrisos mais emocionados e as gargalhadas mais parvas - como se fossemos crianças, inocentes.
As músicas natalícias são um à parte, ponho de lado, não gosto de as ouvir sem ser na noite de Natal, a tocar naquele rádio que quase cai aos pedaços mas que deita as notas de uma forma diferente. Soa a família, a recolha, a amor, ao ignorante e típico jogo das cadeiras, ao carro dos bombeiros ou à gasta trotineta. Aguardo essa noite, essa noite com os números um. Hoje parto para essa noite, para outra, e outra (...)

Second chance

Encontrei calma, esta noite. Muito longe daqui, das estrelas. Cansada destas luzes e de tudo o resto, continuo a construir a minha própria luz que compensa tudo o resto. Não faz diferença, desta vez - é difícil de acreditar.
Esta glória traz-me coragem e nos braços deles, longe daqui, a partir deste espaço desconhecido há algo que tu sentes e guardas. E a gravação do teu silêncio faz-me encontrar o meu conforto.

Fixa a mim mesma

Que frustração, não conseguir passar o que preciso para aqui deixa-me incomodada comigo mesma. Secalhar é mesmo melhor assim, há coisas que não podemos deitar para fora, não há expressões puras que o possam fazer, não há a imagem nítida daquilo que queremos. São palavras que eu sei dizer, mas que não consigo exprimir, é muito medo de as exteriorizar.
São coisas que não conquisto, não sou capaz, sentimentos livres, teimosos. É como algo preso, incapaz de arranjar força e coragem para se libertar.
Continuo, apenas..
tive de o fazer - há momentos em que acumulamos realidades negativas, as tais coisas que ignoro. até ao instante em que basta um toque para tudo ir abaixo outra vez. para tudo voltar ao inicio do ciclo que está gerado. e vai ser sempre assim, eu sei disso, sei que as trocas de emoções nunca vão parar, vai haver sempre uma razão, um simples alento para mudar tudo. uma palavra, uma sentença de mudança.
desde há muito tempo que tenho aprendido que quanto menos queremos, mais acumulamos e assim muito pior é o momento em que tudo cai. quero a força para me levantar mas essa está roubada, foi-me tirada por algo superior a mim própria.
---
Quero que tudo corra bem princesa, amo-te *
A cidade que considero a mais viva e apagada ao mesmo tempo – a chegada daquela coluna com tons amarelos, verdes e vermelhos, depois a curva acentuada de ansiedade e, por fim, um abandonar que assegura a chegada ao conjunto de sensações que me transformam. Não consigo justificar a minha reacção. Sei que é ali que me quero demorar. Sinto o cheiro certo, arranjo as palavras genuínas e tudo passa a réplicas e semelhanças desiguais que admiro vivamente. Aquilo que me enche é como um extenuar de dificuldades, de desordens. Nunca vou conseguir explicar o efeito que me faz e, por isso, continuo a vivê-lo sempre da mesma forma, impossível de expressar. "O lar é onde o coração do homem cria raízes." (Henrik Ibsen)

Neutralização

Sim, agora tenho tudo organizado.
Decidi transpor todos aqueles sons e jeitos para um único sentimento de súbita elevação. Transformei o escuro em claro, o vermelho disforme em amarelo apetecível e todo aquele azul remodelei-o para um laranja que me consome sempre que penso nisso. Vontade de regressar? Não. Só penso em repetir vezes sem conta até o meu coração me mandar parar. E é a isso que se chama persistência. É a vontade inabalável e agradavelmente inconsequente que me faz agir assim.

Disfarce

De um momento para o outro vejo-me fugir. Como quando passamos por um candeeiro, aparentemente abandonado na estrada, em que a nossa sombra desaparece à medida que nos aproximamos.
Essa estrada transforma-se então no caminho que vou formando à minha frente e, sem perceber, enquanto o tempo corre sinto-me mais distante de mim própria, a ignorar aquilo que sei que tenho de completar, só para poder aguentar mais uns instantes que se transformam num para sempre. Mas é esse ignorar que traz os momentos mais delicados, que mais me ficam junto ao coração.
Ter de fingir que estranho isto é mau, mas não sou capaz de não passar por cima de certas coisas. Tenho de gozar o conjunto de emoções que se formam no rosto da vida.

Presença abstracta

Há momentos em que nos sentimos refugiados e esse cantinho que criamos faz-nos sentir melhor. Podemos até originar consequências negativas, mas esse espaço que damos a nós próprios torna-nos algo superior e capaz de chegar muito mais longe.
E há conversas que temos com a nossa consciência que nos abrem os olhos e nos fazem pensar mais em coisas que classificávamos como ignorantes e desnecessárias. Agora dou-lhe uma importância muito mais forte, mais profunda e cultivada. Tenho vontade de regressar ao passado e poder rever e sorrir mais nos momentos em que simplesmente observei a sua partida. Tenho pena, mas tenho-o comigo, agora. E a sua presença vale mais do que mil palavras, mais do que um simples beijo de recompensa, mais do que um não.

Mentira

paras, olhas e reflectes. pensas no que está para trás e no que sabes que vem. sabes que foi bom, está a ser óptimo e ainda pode ser melhor. o mau vais embrulhá-lo numa folha de papel, mandá-lo fora. não merece estar aí, nesse olhar que transportas todos os dias, nessa Coisa fingida que passas. às vezes é preciso descer para se ver o que há nas zonas mais escuras, mais escondidas, naquilo que não queres ver mas que no caminho te apercebes que vais encontrar. transpiras sentimentos que queres deitar fora, mas não consegues concentrar-te o suficiente para o fazeres, persegue-te horas e dias a fio. precisas de força e vais buscá-la ao melhor que tens - consciência. são palavras que saem sem dares por nada e que te vêm à cabeça num 'abrir e fechar' de olhos. abres, fechas, voltas a abrir e és obrigada a ver a realidade. vive!

tu contradizes-te.

[25 de Janeiro de 2008]

Um começo



O sítio a que chamaram coração é, para mim, um conjunto intrigante e complexo de defeitos, qualidades e experiências. Cada toque, cada sabor, cada cheiro tem o seu significado e cada um passa a transparência de algo que queria repetir, que queria acentuar num retrato. E todos esses passos, errados ou certos, formam uma composição que trata a história que a nossa existência escreve, do livro enorme que forma, das alegrias que traz e dos ensinamentos que dá. E esse livro é o que está e vai estar sempre na “mesinha” de cabeceira para poder reflectir sempre que me deito e sempre que acordo.